sexta-feira, 5 de março de 2010

Rascunhos

Uma pequena coisa que eu escrevi o outro dia.


Apenas palavras

“Eu te admiro por isso”, ele disse. Ela imaginou o que ele quis dizer. Eram apenas palavras, talvez. Algumas vezes palavras servem para calar, ela cogitou. Talvez não quisessem dizer realmente nada.
“Gosto de você”, “eu te amo”, geralmente não têm esse sentido.
“Gosto de você” e viro as costas quando você precisa. Era difícil acreditar quando tantas pessoas já haviam lhe virado as costas e saído mão em mão com estranhos.
“Eu te amo” e te magôo, deveria estar explícito. Nunca era dito, mas sempre estava lá, pairando sobre as juras de amor. É impossível magoar sem amor.
“Eu te admiro por isso.” Não se encaixava em nenhuma das noções pré-concebidas que ela tinha. O que deveria significar? Que não havia outros motivos para ela despertar interesse? Que ela era apenas aquilo? Aquela fração ínfima de sua personalidade era só o que ele via? O pequeno ponto e não a sucessão interminável de vírgulas...
Não. Eram apenas palavras. Palavras são ditas sem serem pensadas. Imprensadas entre a língua e o céu da boca, como ela gostava de pensar. Custavam a sair. Se saíssem fáceis, não significavam nada. Se saíssem difíceis demais, talvez fossem mentiras. Mentiras precisam mais elaboração do que a verdade. Uma mentira bem contada se torna uma verdade, ou era o que ela pensava.
Estava se enganando, tinha certeza. De tantas coisas que ele poderia escolher para admirar, tinha que ser o pequeno ponto? Não era nem a exclamação, não era nem o argumento. Era o ponto. O ponto final, o último dos pontos. Era o ponto que importava. Ou pelo menos, o que mais importava para ela. O ponto essencial da sua existência.
Era difícil. Era aquele o ponto que sempre provocava o “e te magôo”. Era ele que fazia amar, mas também era capaz de destruí-la completamente. Estava fraca e cansada demais para isso. Queria não ter escutado as palavras. Estava farta de acreditar que elas diziam mais do que a verdade.
“Eu te admiro por isso”, ele disse.
“Obrigada”, ela respondeu e seguiu em frente, fingindo que ele havia mentido. Intimamente, queria dizer “eu te amo”.
E te magôo.

Um comentário:

Goimary disse...

Ei, Rê!
Que texto confuso. Não na mensagem que tenta passar, mas nos sentimentos da personagem. Ela é alguém que teve o coração partido diversas vezes e a gente não consegue descobrir nada sobre ele, mas é estranho, pq fiquei com a sensação de que podia "vê-lo" parado diante dela. Não a matéria, mas o q ele representava pra ela naquele momento, sabe?

Gostei.
Parabéns!
=*

T cuida!